Com a chuva que cai me vem os pensamentos mais profundos. Pensamentos sobre como será o futuro e onde estarei nele. A chuva cai cada vez mais forte. E cada vez mais forte é minha melancolia. Quão mais alto é o barulho da chuva no meu telhado, mais altos são meus gritos mentais de que a solidão é ruim.
A chuva tem disso. Te fazer pensar. Te fazer valorizar aqueles dias de Sol em que você odeia o calor. Te fazer valorizar aquele abraço quente num dia mais quente ainda. O frio é muito solitário. Mais ainda quando tem pessoas ao seu lado. Não sei como explicar, mas o frio me muda de um jeito inexplicável. Fico introspectivo, reflexivo.
Eu gosto da chuva. Mas ela me faz se sentir deslocado. Desorientado talvez seja a palavra mais correta. A chuva me faz se sentir bem e mal. Assim, os dois ao mesmo tempo. Sempre lembro do que minha mãe diz sobre a chuva quando reclamo: “ao menos você tem um teto que te proteger dela”. Mas acho que o teto não é o bastante. Por que ela me atinge com toda força e me faz perder toda vontade de fazer algo. Alguns podem achar que é apenas preguiça mas não é.
Sinto como se nada do que eu fiz ou venha a fazer possa mudar alguma coisa. Possa valer a pena. É nessas noites de chuva que desisto dos meus sonhos, dos meus livros, das minhas músicas e viro um vagabundo fracassado. Só para depois a chuva passar, o Sol aparecer e me dar novo ânimo pra continuar o que tinha desistido.
Percebo que tenho chances reais de fazer a diferença com minha arte, meu talento, minha inteligência. Mas só depende de mim. Ou melhor, de mim e da chuva, que pode me vencer de vez e deixar-me numa paralisia criativa e fazer-me escrever textos sem nexo como este que começa como um poema sobre a chuva e termina como um desabafo rabugento de alguém que se sente preso quando a chuva o ameaça com suas gotas molhadas de vapor precipitado.
A. Lopes,
2 Julho 14