As vendas e rédeas postas na sociedade hoje são as mesmas do século passado – e do anterior: a ignorância. Concepções quanto a mundo e cidadania continuam turvas e desconhecidas da maioria. O que fazer para mudar isso?
O conhecimento é a chave. É a partir da racionalização que cada indivíduo sabe seu lugar, seus direitos e seus deveres. Processo este pouco aceito pela maioria, tachado de radicalismo, quando nada mais é do que o mínimo que se exige de uma sociedade tão globalizada e evoluída. Este processo é construído primeiramente através do mundo sensível: das observações do indivíduo em relação ao mundo, utilizando os sentidos; seguido pela racionalização quanto às observações coletadas e à reflexão de tudo a sua volta; e aqui encontra-se o problema: apesar de construírmos e observarmos nossa realidade, não racionalizamos para chegar a um entendimento mais profundo de tudo que acontece ao nosso redor, passo imprescidível para o bom exercício da cidadania.
Fica óbvia essa falta de racionalização quando vemos afirmações absurdas como “Mulheres vítimas de estupro que abortam são assassinas” e simplesmente baixamos a cabeça e concordamos mesmo sabendo que nenhuma verdade é absoluta e que toda afirmação deve ser questionada, racionalizada e discutida. Todos ficam à espera de alguém que questione, mas quando isso ocorre o indivíduo termina por excluir-se da comunidade: é o louco, o lunático, o que “está inventando moda”. Do modo como nossa sociedade está organizada, pensar sobre o mundo é um direito para poucos, os outros devem simplesmente aceitar o que lhes é imposto.
Na Alegoria da Caverna, Platão explicita este medo do desconhecido e a comodidade do homem. Mesmo que um deles chegue a ver o mundo real e o entenda, difícilmente conseguirá transmitir esse conhecimento aos outros que continuam a ver sombras. Ocorre da mesma maneira até hoje: os que obtém este conhecimento usa-o em benefício próprio, escondendo-o dos outros, ou é marginalizado por apresentar uma corrente de pensamento diferente mesmo que mais coerente. Ter ideologia hoje é antiquado.
Nossa “caverna” tem um nome muito mais simplório e inocente: escola. Apesar de seu ideal de abrir a mente para o mundo, as escolas são fábricas de “aperte confirma”: joguentes que mais adiante, nas eleições, serão usados para votar em qualquer em quem lhe for apresentado, sem questionar; simplesmente vivendo sua vida, pagando seus impostos, trabalhando e votando, obviamente. As instituições de ensino freiam o exercício da cidadania, calando vozes e questionamentos que eventualmente possam surgir. Somos obrigados a nos contentar com as sombras e com os ecos do verdadeiro mundo, da verdadeira racionalização.
Por que será que temos 50min de Filosofia e Sociologia e às vezes até 3h30 semanais de Biologia, Química ou Matemática? Porque a escola é uma indústria de pessoas programadas para fazer o que acham que devem sem titubear. É uma fábrica de mão de obra barata que só serve para pagar impostos e para votar! É assim que eles, os chefões, nos veem. E infelizmente é nesta situação vergonhosa que nos encontramos. Não que devemos deixar de trabalhar ou votar; mas isso não é o bastante quando se é um cidadão! Não é o bastante, quando buscamos uma sociedade justa e harmoniosa!
O que faz um deputado federal? Eu mesmo, sinceramente, não sei responder. Não deixa de ser, em parte, comodismo meu. Mas pare um instante e reflita: alguém já tentou te explicar? Na escola, no horário político nas mídias, em casa: alguém te disse o que faz um deputado federal? Pois é, a sociedade já se acostumou a não questionar: o problema é mais sério do que pensamos. Nadar contra a corrente nunca é agradável, mas é mais seguro que deixar-se levar sem saber para onde.
O que falta é uma verdadeira revolução, inicialmente individual, no que tange cidadania e realidade. Sabemos que isso jamais acontecerá da noite para o dia. A cidadania será exercida corretamente somente quando abrirmos nossos olhos e percebermos todas as décadas que perdemos sendo meras marionetes, a massa ignorante. Isso se dará através do diálogo e da discussão, refletindo sobre nossa posição, nossos direitos e deveres na sociedade.
A. Lopes,
29 de Julho de 2013